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A voz como evidência: a complexidade da perícia forense

  • Foto do escritor: Adriano Miranda
    Adriano Miranda
  • 17 de set.
  • 3 min de leitura

Em filmes e séries, a "impressão vocal" é frequentemente retratada como uma biometria única e infalível, capaz de identificar qualquer pessoa com uma precisão absoluta. No entanto, a realidade da perícia forense de voz é bem diferente, e muito mais fascinante. A voz humana não é como uma impressão digital, imutável e inconfundível. Pelo contrário, ela é dinâmica, moldada por uma complexa combinação de fatores fisiológicos e comportamentais.

No campo da Fonética Forense, a identificação de falantes é um exame meticuloso que se baseia na comparação de duas amostras de fala para determinar se foram produzidas pela mesma pessoa. Para chegar a uma conclusão robusta e cientificamente embasada, o perito utiliza uma metodologia que associa dois tipos de análise complementares.


"A pesquisa do Professor Patel demonstra como a ciência da computação melhora a qualidade de vida de pessoas em um amplo espectro, neste caso, indivíduos com dificuldades de fala", disse Elizabeth Mynatt, Reitora do Khoury College. "Ao tornar essa tecnologia mais amplamente disponível, as vozes de muitas pessoas agora são ouvidas com mais autenticidade."
"A pesquisa do Professor Patel demonstra como a ciência da computação melhora a qualidade de vida de pessoas em um amplo espectro, neste caso, indivíduos com dificuldades de fala", disse Elizabeth Mynatt, Reitora do Khoury College. "Ao tornar essa tecnologia mais amplamente disponível, as vozes de muitas pessoas agora são ouvidas com mais autenticidade."

Análise Perceptivo-Auditiva: O Ouvido Treinado do Perito


A primeira etapa do exame é a análise perceptivo-auditiva. Considerada o padrão-ouro na área , ela se baseia na percepção e no conhecimento técnico do perito sobre a produção da voz e da fala. O profissional vai além do que se ouve, buscando delinear um perfil comunicativo completo do indivíduo.


A perícia avalia uma série de características da fala e da voz, como:

  • Qualidade vocal: Se a voz é rouca, soprosa, áspera ou neutra.


  • Pitch: A percepção do tom da voz, que pode ser agudo, médio ou grave.


  • Loudness: A sensação da intensidade, classificando a voz como forte, fraca ou normal.


  • Prosódia: A entonação, o ritmo e a acentuação da fala.


  • Articulação e Pronúncia: Como os sons são ajustados e produzidos pelos órgãos fonoarticulatórios, como lábios e língua.


  • Dialeto e Socioleto: As variações linguísticas e sotaques que podem ser característicos de uma região ou grupo social.


  • Idioleto: As marcas de fala particulares de um indivíduo, como o uso recorrente de certas expressões.



Análise Acústica: A Ciência por Trás do Som


Complementando a percepção auditiva, a análise acústica investiga as propriedades físicas do som. Para isso, o perito utiliza softwares especializados, como o Praat, que transformam as ondas sonoras em dados visuais e quantitativos. Essa abordagem é crucial, pois, apesar de um ouvido humano poder ser enganado, a análise acústica pode revelar diferenças significativas que a audição não detecta.


Nessa etapa, o perito examina parâmetros como:

  • Frequência Fundamental (F0): O número de vibrações das pregas vocais por segundo, que se correlaciona diretamente com o pitch (tom) da voz. É um elemento importante para a identificação, já que é influenciado por características fisiológicas como o tamanho e a densidade das pregas vocais.


  • Formantes: Os picos de energia que se concentram em regiões do espectro sonoro e são essenciais para caracterizar as vogais e reconhecer as características da fala. Os três primeiros formantes (F1, F2 e F3) são os mais relevantes.


Exemplo de Aplicação Prática: Imagine que em uma amostra questionada, a pessoa diz a palavra "tá". Na análise acústica, o perito pode verificar a frequência fundamental da vogal /a/. A amostra questionada pode ter uma F0 de 230Hz, enquanto a amostra padrão do suspeito, uma F0 de 174Hz. O perito também compara os formantes. Se a amostra questionada tem um F1 de 690Hz e a amostra padrão um F1 de 547Hz, isso pode indicar uma diferença perceptível. No final, uma tabela comparativa é criada para facilitar a visualização de todas as convergências e divergências entre as amostras.



A Coleta de Evidências: Amostra Questionada vs. Amostra Padrão


Para que o exame de identificação de falantes seja possível, é essencial ter duas amostras de voz.


  1. Amostra Questionada: É a evidência de áudio cuja autoria é desconhecida. Ela pode ser uma gravação de interceptação telefônica ou uma gravação ambiental.


  2. Amostra Padrão: É a gravação da voz do indivíduo suspeito. O ideal é que sua coleta seja feita em uma diligência pericial, com a presença das partes e seus representantes legais, em um ambiente controlado e silencioso. O perito deve utilizar técnicas para incentivar a fala espontânea, como a leitura de frases ou uma conversa sobre o contexto do processo.


Um dos maiores desafios da perícia é lidar com fatores que podem alterar a voz do indivíduo, como ruídos de fundo, o estado emocional (raiva, estresse), cansaço, gripes e, principalmente, disfarces vocais. O perito deve estar atento a todas essas variáveis, pois elas podem comprometer a identificação.


A conclusão do exame de identificação de falantes não é sempre decisiva. Em muitos casos, o laudo pericial irá indicar se existem fortes elementos de correspondência ou diferença entre as amostras, e até que ponto o resultado suporta ou contradiz a hipótese de que as vozes pertencem à mesma pessoa.

 
 
 

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